Veríssimo José de Oliveira

Hoje em dia é muito comum vermos as pessoas lendo histórias, livros e jornais em seus celulares e tablets. É a tecnologia sendo utilizada como ferramenta de incentivo à leitura.
 
O que muitas pessoas não sabem é que, no Brasil, muitas pessoas foram apresentadas ao universo da literatura através do Cordel - manifestação literária tradicional da cultura popular brasileira, mais precisamente do interior nordestino. São folhetos pendurados em cordas que trazem versos com linguagem muito informal. A maioria utiliza-se do humor e da ironia para contar histórias sobre o folclore brasileiro, realidade social e local. As rimas também são uma característica forte.
 
Em 2018, a literatura de cordel foi reconhecida pelo Iphan como Patrimônio Cultural Brasileiro. 
 
Para conhecer um pouco dessa modalidade, a equipe de comunicação da ANADEP conversou com o defensor público do Estado de Sergipe, Verissímo de Oliveira. O cordelista teve como inspiração o próprio pai, um senhor de 85 anos de idade, que aprendeu a ler cantando cordel e que até hoje recita os que escreve. Já no início de nossa conversa, ele nos presentou com alguns versos: 
 
"Vou contar uma história
Que parece uma ficção,
Aconteceu em algum lugar
Aqui em nossa região,
De um sentimento de amor
Que num sapo brotou
Lhe apertando o coração.
"

ANADEP - Há quanto tempo você é defensor público? Por que decidiu ingressar na carreira?

Ingressei na Defensoria Pública do Estado de Sergipe, no dia 25 de maio de 1988, há 31 anos e cinco meses. Decidi ingressar na carreira porque me identifico com o trabalho realizado na Instituição.

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Hoje, além de ser defensor público, você também é escritor. Como surgiu este talento?

Considero-me um rábula na arte literária do cordel. Meu objetivo é propagar a cultura popular nordestina, da qual faço parte. Sou graduado em licenciatura plena em Língua Portuguesa, justamente onde tomei gosto pela poesia de cordel.

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Seu trabalho é direcionado ao Cordel. Como você definiria esta modalidade?

Vejo a poesia de cordel como fonte de inspiração das coisas do Nordeste, como forma alegre e divertida de mostrar a vida sofrida da região em busca da sobrevivência. Como já fizeram outros autores em seus livros de prosa, a exemplo de Graciliano Ramos, em seu livro “Vidas Secas”, narrando o sofrimento do personagem “Fabiano”, no desespero de fugir da miséria. Por isso, tenho feito o que posso como agente propagador na divulgação de minhas poesias alegres e divertidas.

Em sua opinião, quem é o maior cordelista do Brasil?

Sem dúvida nenhuma, o saudoso PATATIVA DO ASSARÉ. Também sou um grande admirador do escritor Leandro Gomes de Barros. Há também a festejada escritora Izabel Nascimento, que atualmente é presidente da Academia Sergipana de Cordel. Não posso deixar de mencionar o livro “Das Neves às Mulheres”, lançado por 17 mulheres cordelistas sergipanas, no dia 22 de março de 2018. A obra tem como referência a trajetória de Maria das Neves Batista Pimentel, a primeira mulher cordelista que se tem notícia, tendo escrito seu primeiro folheto no ano de 1038.
 
Um dos seus livros é "O Romance secreto do Sapo e a Lua". Conte-nos mais sobre ele!

"O Romance Secreto do Sapo e a Lua" nada mais é do que uma poesia romântica em cordel. É a história de um Sapo que nutria uma paixão pela Lua, que diariamente o iluminava no escuro. O sapo, que vivia em plena solidão, tinha como sua companheira a Lua, mas, sem imaginar, comprou uma encrenca feia com o Sol, que era compromissado com a lua. Por fim, ele terminou sobrando. Para ler o romance completo, clique aqui. 

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Quais outros livros você já lançou?

Até agora só lancei o Romance do Sapo e a Lua, mas já tenho várias poesias escritas, que pretendo lançar na Bienal do Livro de Itabaiana, no ano de 2021.

Quem te inspira na hora de escrever?
Quem mais me inspira na hora de escrever é o meu velho pai, um homem de 85 anos de idade, que aprendeu a ler cantando cordel, tornou-se um autodidata. Hoje é Oficial de Registro Civil aposentado. Ele escreve e canta os cordéis do passado, os quais guarda na memória até hoje.

Como você acha que projetos que envolvam livros e os(as) usuários(as) da DP podem auxiliar na construção de um indivíduo melhor?

A Defensoria Pública tem tido sua atuação destacada em vários núcleos sociais: escolas, ambiente de acolhimento de pessoas em situações de vulnerabilidades, entre outros. A poesia de cordel, por exemplo, leva alegria e alento à essas pessoas. 
 
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?

Vejo que várias ações podem ser colocadas em prática e que fortalecerá a Instituição. Uma delas é dar independência plena, inclusive de proposta orçamentária, para que possamos ter recursos para aumentar o quadro de defensores públicos, dotando as comarcas do interior com essa assistência, o que hoje ainda não é realidade. Por isso, vejo essa carência humana como um dos grandes entraves para o fortalecimento das Defensorias Públicas Estaduais, na defesa dos menos favorecidos economicamente, que é o nosso grande e maior propósito.

Fonte: ANADEP